Por Fabiana Pedroni
Me diga, quem é o autor do livro que está a ler?
Você, possivelmente, não terá dúvidas, dirá que é o escritor. Mas, e se tiver em mãos um livro-imagem, um álbum composto somente por imagens? Então, o autor é o ilustrador. Mas, e se for um livro ilustrado, quem é o autor, o escritor ou o ilustrador?
Estas perguntas não são inocentes. A confusão é tão extensa quanto a história do livro. Em manuscritos medievais, o texto precedia a imagem. Aquele que fazia o texto, demarcava onde a imagem estaria inserida. Por mais complexo que fosse o papel da imagem medieval, muitas vezes, a imagem era percebida como subordinada ao texto, mesmo que não o fosse. Essa herança de aparente subordinação nos influencia até hoje!
Quando falamos de livros infantis, livros que guardam qualidade de discurso entre texto e imagem, a autoria pode se tornar um dado burocrático. Escritor e ilustrador trabalham cada um em sua linguagem, mas, o resultado é tão harmônico, que não temos a prevalência de um sobre o outro.
Dessa forma, as ilustrações aparecem como uma linguagem visual que dialoga de diferentes formas com a linguagem verbal. A ilustração pode apresentar personagens, já desde a capa; pode compor a personalidade de um personagem; pode explicar o texto, frisar passagens; pode ir além do texto, propor novas narrativas; pode brincar com o texto, e até mesmo ignorá-lo!
Há uma infinidade de papeis da ilustração em um livro: função narrativa, de apresentação, de cena, de contextualização, de criar empatia com o leitor… Sim, muitas vezes é pela ilustração que o leitor se conecta afetivamente com um livro. Pode ser pela caracterização de um personagem, no modo como ele se articula pela página, ou até mesmo um detalhe, um brinquedo que o personagem carrega para todo lado e que você tinha quando era criança.
No livro “O Saci: uma história do folclore brasileiro”, você reparou no seguinte diálogo?

“Cada figura possui uma linha de recorte. Essas linhas são como formigas guias, mostram um caminho, mas você pode trilhar outros!” (texto de apresentação do livro O Saci)
“O texto a seguir é também trabalho de formiga. Juntas as palavras formam uma narrativa que é só o começo.” (texto de apresentação do livro O Saci)
As formigas, na ilustração do tamanduá, aparecem também como referência no texto de apresentação: são as formigas que guiam a tesoura do leitor ou metáfora para construção colaborativa, como num grande formigueiro!
Um livro é um todo e a ilustração, quando presente, tem papeis específicos que vai depender desse todo.
E aí, sobre este livro que você está lendo, como funcionam as imagens? Volte nelas e pense um pouquinho sobre como ela se encontra ou desencontra do texto e do restante do livro, depois conta pra gente! ❤ 🐜